sábado, 8 de janeiro de 2011

Analiso uma a uma das opções e nada. Nenhuma novidade. Corro os olhos do primeiro ao último, selecionando meticulosamente as qualidades, aroma, tempero, sabor – balanceando com o tamanho do apetite também. E o fim chega mais rápido do que eu imaginava, sem sucesso. Decepcionada caio, me levanto. Só Caio serviria. Mas sendo assim, sem Caio, só me levanto e retorno ao menu. A extensa gama de opções ilude, a maior parte não vale a pena. E o apetite não é tanto.
Poderia contar com aquela surpresa. Mas pensando bem, pode ser como da última vez: espero tempo demais, até ser avisada de que essa opção não está disponível. O que sobra por resultado é uma imensa fome não saciada.
Peço a carta de vinhos, finjo que entendo e resolvo pedir uma garrafa de um argentino. E pareço mesmo entender afinal é o melhor de todos os tintos que já provei – não que tivesse provado muitos outros, a bem da verdade só conheço de cervejas nacionais.
No início não acreditava que iria dar conta de toda a garrafa, mas o vinho é tão bom que sem notar toma-a toda e penso em pedir mais uma. Mas não posso. Tenho que dirigir, o vinho é muito caro, acabou o estoque, o garçom se nega… a desculpa não faz diferença. Só fica aquele aroma irresistível, mas ao qual tenho que me privar sem entender bem o porquê.

sábado, 25 de setembro de 2010

Mentira, é só o que sou. Uma pilha de falsetes. Acredito nos sentimentos que forjei ao longo da vida como se não houvesse outra realidade. Atuei muito bem, fui filha revoltada, namorada carinhosa, mulher safada, amiga confidente, fiz revolução e senti saudade. Ora essa, saudade de quê. Nunca houve nada que fosse meu de verdade. Talvez um velho rádio, uns discos, cigarros emprestados e nunca devolvidos, roupas compradas com mesada desmerecida. Meus pais, meu avô, meu namorado, não eram meus. Eram donos deles mesmos. E eu, que devia ser dona de mim, me vendi às mentiras que contei para me confortar.

domingo, 22 de agosto de 2010

"Eu cheguei a conclusão que se o amor é verdadeiro não existe sofrimento" R.R.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Parasitologia mata.

Primeiro lembre-me mais tarde. Agora não. Hoje eu prefiro fingir que não gosto, não quero, definitivamente não preciso. Talvez um dia mude de idéia. Tente outra vez. Outra. Mais uma, quem sabe. Não adianta insistir, um dia quebro a cara sozinha e aprendo. Mas sozinha. Os outros são os outros, ou seja, muito melhores que você. O primeiro, o único e de quem eu quero mais distância.

Depois lembre-me que na verdade tenho medo. Não se esqueça de me avisar daqui a uns dois anos que essas coisas a gente não esconde a vida toda. Eu provavelmente vou saber. Você nunca se foi. Fingiu sumiço algumas vezes, mas eu sempre fui mais sagaz e notava sua farsa. Eu, sempre fui só(,) eu.

Lembre-me agora do que eu já me esqueci (ou finjo que esqueci, só para matar as saudades). Agora que os outros passaram a ser só sombra de coisa nenhuma, foi você que eu senti. Ficou tão perto que eu já nem via mais. Você me lembrou tantas vezes; uma hora alguém sempre cede e nunca é você.

Mas e se eu me esquecer? Ou pior, se você se esquecer de mim?! Lembre-me de que as interrogações vem sempre antes das exclamações (?!) A dúvida me faz querer Relembrar.

domingo, 20 de junho de 2010

Sinta-se Sintaxe (Como me senti)

Ele se deitou ao lado dela. Contrariando seus princípios e confuso de sua vontade, cogitou dormir no sofá. Mas os cabelos dela cheiravam bem (cheiro do seu próprio xampu) e fazia tempo que não conhecia outro calor senão o do edredom azul. Ficou. Ficou mas virou-se para o outro lado. Ela estranhou a televisão ligada, mas preferia o som do desenho animado ao tambor que tinha dentro do peito. Estavam com muito frio. Ou pelo menos deviam estar, afinal ambos tremiam. Não entendiam porque apenas as mãos eram quentes.
Ela recostou sua cabeça no ombro dele e apoiou a mão - que pulsava sozinha - naquele peito gelado. Deu o sinal, ele entendeu e virou-se. Sua mão também pulsava, não obedecia mais às regras que ele estabelecera há anos. Então as duas se encontraram; e ferveram de tanto calor, de tanta vontade uma da outra. Os olhos fechados denotavam o medo de encarar os fatos. Mas como que se tivessem ensaiado, abriram-se juntos, olhos e corações. Na verdade os dois não sabiam dizer se tinham se aberto juntos ou se o outro, já de olhos abertos, admirava um sono fingido. O fato é que eram dois pares de olhos se encontrando. Um dos pares parecia querer se fechar de vergonha, enquanto o outro negava a genética e forçava para abrir. Ora, se os olhos deram permissão e a respiração ofegante denunciava o desejo, não havia razão para que a boca fugisse.
Ele e Ela foram Eles. O Singular pensava sozinho, forjava indiferença, mentia pro ego, mas no Plural era impossível esconder qualquer coisa que valha. Durou o suficiente. Mesmo quando tudo indicava ser melhor enquanto estavam juntos, foi um duelo. Um duelo gramatical, diriam mais tarde, em que o tempo verbal de um era diferente do outro. Ele sempre tentava conjugá-los no futuro do presente, ou pior ainda, no do pretérito. 'Você sofreria mais...' O tempo pretérito era perfeito, mas ela insistia em acreditar que podia ser imperfeito - estava no seu direito, iria respeitá-lo. Afinal quando é perfeito acaba logo. 'Eu gostei de você.'
Ela tinha certeza de que os outros dias seriam iguais ao primeiro. Não foram. Os sujeitos não concordavam. Mas é certo que nem ele, nem ela ignoram a primeira vez que as mãos ferveram juntas. Continuam singulares, forjando a mesma indiferença, crentes que o outro está de olhos fechados. Mas não.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

"Youdoingthatthingyoudo
Breakingmyheartintoamillionpieces
Likeyoualwaysdo" TheWonders

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Alguns homens são criações dos Deuses. Alguns.